Porém, enquanto ele [o mal] estiver durando, é eterno enquanto dura. Assim, baseado nestes pressupostos que apontam a plasticidade temporal, elenco algumas noções que são utilizadas no dia a dia em situações que tem a ver com a propriedade de agigantamento/encolhimento do tempo em função do prazer/dor envolvido em cada uma delas. A última dimensão é surpreendente, pois para obtê-la dependemos do Apocalipse, ou de um emprego no Google.
1- Perder tempo.
As coisas mais chatas da vida são as que demandam mais tempo, tais como varrer, tomar banho, lavar roupas, escovar os dentes, lavar louça, cozinhar, pegar o transporte público, esperar, fila de banco, etc. Infelizmente, passamos a vida perdendo tempo.2- No "meu tempo".
Pessoas saudosistas costumam dar uma conotação paradoxalmente estática à dimensão do tempo reduzindo-a ao “seu tempo”, ou seja, se referem a um passado distante onde elas foram felizes, como se o tempo atual não fosse delas e não vivessem, ou fossem zumbis.3- Roubar tempo.
Os chatos são especializados em roubo de tempo, já que eles são os primeiros a dizer“desculpe por estar roubando o seu tempo”. Caso a pessoa se deixar levar pelo andor, escorrem pelo ralo minutos preciosos nas presas de tais bestas humanas.
4- Desperdiçar tempo.
O auge da noção de desperdício de tempo é atingido quando a pessoa completa 25 anos, quando surge a pergunta que não cala: “E agora? Estou a meio caminho dos 30 e nada construí!”. Piora mais ainda a situação quando ela se compara a Mozart, Pelé, ou Wood Allen.5- Fechar o tempo.
Significa luta, disputa, discussão, pancadaria e farta distribuição de sopapos. Toda a luta é eterna enquanto dura e dura mais ainda quando os machucados começam a doer.6- Dar um tempo.
Ninguém dá tempo de graça. Quando um dos parceiros aparece pedindo para “dar um tempo”, é sinal de que a relação amorosa foi para o saco. A sabedoria popular sabe que nada é mais inverídico na petição do que a promessa da “volta” depois do tempo solicitado, ainda mais porque ninguém se compromete com prazos nessas situações embaraçosas.7- Bom/Mau tempo.
A meteorologia reduz a dimensão do tempo à questão climática. Por incrível que pareça, essa concepção não trabalha com a noção de tempo transcorrido, já que o transforma em qualificativo.8- Fim dos tempos.
O conceito de fim dos tempos é monopolizado pelas religiões e doutrinas apocalípticas. Dentre as muitas teorias do fim do mundo constam o Juízo Final, impacto de um gigantesco asteroide contra o planeta terra, guerra atômica, aquecimento global, cataclismos, etc.9- Passar tempo.
O lazer foi o método inventado para passar o tempo de maneira lúdica e fazer menos filhos. Para atender tais necessidades urgentes, surgiu a indústria do entretenimento que oferece tudo o que os olhos desejam e o que bolso não pode pagar.10- Ter tempo livre.
Provavelmente a dimensão de tempo mais difícil de se obter atualmente seja possuí-lo. A vasta maioria das pessoas está matando cachorro a grito e “não tem tempo para nada”. A maior queixa da sociedade pós-industrial é contra a falta de tempo e em nada resolve o avanço tecnológico dos gadgets que se tornaram extremamente portáveis para permitir que os sujeitos nunca se desconectem deles onde estiverem.Aparentemente a única solução viável para a crônica falta de tempo dos nossos tempos, exceto o Apocalipse mencionado acima, é trabalhar no Google. Veja como sobra tempo aos geniais e super-atarefados rapazes para tirar a sonequinha pós almoço, sonho dourado de todos nós que somos condenados a labutar de sol a sol.
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